domingo, 20 de janeiro de 2013

Sobreviventes do Holocausto comemoram bar mitzvah

Quase 70 anos após completarem 13 anos, 10 homens marcam a data que foram forçados a pular, devido a ocupação nazista. Acompanhados por parentes, cada um foi chamado para ler a Torá no Muro das Lamentações
Na praça do Muro 10 homens foram chamados para ler a Torá. Seu cabelo branco, rugas e movimentos lentos revelaram que eles estavam muito longe dos 13 anos. O atraso de 70 anos não impediu a leitura das bênçãos da Torá com uma voz trêmula, regados com muito doce pelos parentes, incluindo netos e bisnetos.
Dez10 sobreviventes do Holocausto se reuniram no Muro das Lamentações para marcar a data que não puderam celebrar, na época devido a ocupação nazista há 70 anos atrás.
O evento único, de iniciativa da Prefeitura de Hasharon Ramat e o Muro Ocidental Heritage Foundation, tiveram como objetivo comemorar a ocasião perdida por 10 homens, moradores da cidade.
A partir do momento que soube do evento Yona Feldman preparou uma carta para ser lida no momento: “Eu nasci em 20 de novembro de 1926 em uma pequena cidade a 16 quilômetros de Auschwitz. A guerra eclodiu exatamente dois meses antes de completar meus 13 anos e meu bar mitzvah foi ‘comemorado’ pelos alemães.
Meu pai e dois irmãos mais velhos conseguiram escapar para a Rússia. Eles achavam que eram os únicos em perigo e não poderiam imaginar que os nazistas iriam exterminar todos. Nós éramos 12 crianças judias quando os nazistas apareceram na escola e nos levaram para um campo de trabalho forçado. Nós trabalhávamos 14 horas por dia, cavando. Eu menti e disse que tinha 18 anos, até porque eu parecia grande e era forte. Eles acreditaram em mim. Meus amigos que não passaram na seleção foram enviados para a morte em Auschwitz. Felizmente eles não têm qualquer documentos que revelava minha idade e assim me tornei um trabalhador forçado para os alemães.Eles nos escravizaram e nos davam apenas 200 gramas (meio quilo) de pão por dia.”

Seus pais conseguiram planejar sua festa de bar mitzvah antes que os alemães chegassem?
“Ninguém pensava. A situação era muito difícil. Meus irmãos mais velhos comemoraram o bar mitzvah na grande sinagoga de nossa cidade. Eles foram chamados para ler a Torá e houve um Kidush para os membros da comunidade. Eles foram preparados para o bar mitzvah como todos os meninos. Nós éramos de uma família tradicional.”
“Há um forte sentimento de vitória que, depois de todos os problemas que passamos eu estou aqui de pé cercado por uma grande família e celebrando o fato de que sou judeu. Embora sejam 70 anos mais tarde, ainda é uma grande vitória. “
” Os nazistas mataram todos os rabinos”
Menashe Trifeld nasceu na Romênia em 1930. Como toda criança ele teve uma experiência com os horrores do Holocausto, em seu bairro residencial de Bucovina.
“Eu tinha 10 anos quando os nazistas invadiram a área que vivíamos. Quando eu estava com 12 anos e meio os russos foram expulsos, também pelos nazistas. A primeira coisa que fizeram foi colocar-nos em guetos e a estrela de Davis amarela em cada um de nós. Dez judeus juntos era perigo de morte, portanto ficava claro que uma cerimônia de bar mitzvah adequada, seria impossível. “
“Uma tentativa de marcar o dia em que era horrível”
Embora os pais Trifeld não fossem judeus religiosos eles queriam fazer um evento especial. “Não houve rabinos porque os nazistas já tinham matado todos. Não havia nenhuma sinagoga, pois os nazistas as destruíram. O que restou foi um parente que tentou me ensinar como ler a Haftará (seções dos escritos do Profetas) .
“Minha mãe e meu pai marcaram o dia convidando alguns parentes para a nossa casa em uma reunião em segredo. Não tínhamos alimento. Foi principalmente uma tentativa para marcar o dia”.
Pouco tempo depois os membros da família Menashe conseguiram escapar dos campos da morte e, finalmente chegaram a Israel. Ele começou uma família teve filhos e netos, mas a memória do bar mitzvah ele nunca esqueceu: “Eu não sou uma pessoa religiosa, mas queria experimentar o mesmo sentimento dos meus netos. Não significa para mim ser chamado para ler a Torá, mas é o fato de ser uma experiência que foi tirado de mim. Estou feliz de experimentá-lo, mesmo na minha idade avançada.”
Frustração na sinagoga
Esta é a primeira vez que Kalman Eyal de 82 anos um engenheiro eletrônico fala sobre “esses quatro anos” como ele define. “Eu nunca discuti com meus filhos e netos, principalmente porque é muito difícil. Como se pode falar de quatro anos de humilhação e sofrimento diário? Não é algo que eu acho fácil de falar, mas talvez seja a hora.” Completa.
“Este evento evoca um bom sentimento”
Eyal nasceu no distrito de Moldova que tinha uma concentração muito grande de judeus na véspera da Segunda Guerra Mundial.
“A situação financeira em casa era muito ruim”, ele disse. “A discriminação contra os judeus e a incapacidade de fazer uma vida honesta levou meu pai a trabalhar em uma fábrica de velas. O dinheiro que ganhávamos não era suficiente para me permitir a estudar e eu fui forçado a deixar a escola para ajudar minha família.”
Um ano depois a área foi cercada por soldados alemães e todas as crianças judias foram proibidas de ir à escola por causa de sua religião. ” Naquela época eu era um menino de rua. Fazia biscates para ganhar algum dinheiro para a minha família.”
Onde você estava com a idade de 13 anos?
“Foi no meio da guerra. Minha mãe era uma mulher religiosa. Meu pai não era, mas ele tinha muito respeito. Era muito importante para ela que eu fizesse meu bar mitzvah. Ela encontrou um professor para estudar comigo, mas a guerra desfez isso. Eu me lembro do dia do meu bar mitzvah como se fosse ontem. Fui à sinagoga sozinho, por meia hora. Os frequentadores me ajudaram a colocar tefilin e tudo foi feito com pressa. Eu fui chamado para ler a Torá e um dos presentes murmurou tristemente em iídiche:” Ele não pode”. A frustração, tristeza e vergonha que senti durante esses momentos são uma coisa que eu me lembro até hoje.”
“Quando eu imigrei para Israel, eu continuei em uma rota estritamente secular e não tive oportunidade para um círculo completo como eu estou fazendo agora. Sinto-me mais judeu. Nos meus olhos simbolizo o desejo de unir o povo judeu. Meu neto, que vai comemorar seu bar mitzvah em poucos meses está aqui comigo e este é um momento muito emocionante para mim. Estou contente de que existam pessoas que nos deram uma oportunidade renovada para o fim de nossas vidas”
fonte: enviado graciosamente via e-mail por: Rua Judaica 30/11/2012 Judaísmo, Sionismo e Humanismo