sábado, 8 de janeiro de 2011

GUETO: O que foi isso?

Uma das palavras referentes aos judeus cujo uso tem causado maior perplexidade é "gueto". Sua etimologia é obscura e há, sobre o termo, muitas teorias. Porém, a maioria são meras hipóteses.

Alguns filólogos até presumem que a palavra "gueto" derivou-se do hebraico guet (isto é, separação ou divórcio). Outros acreditam que provém do italiano borguetto (quarteirão). Há também aquem considere que a palavra toscana guitto, que significa sujo, seria mais convincente como origem. Ou talvez o termo alemão gittei (barras). Qualquer que seja a etimologia, as características físicas dos vários guetos eram quase sempre as mesmas.

Uma das primeiras citações do termo "gueto" pode ser encontrada no preâmbulo do Código das Leis Canônicas esboçado pelo Concílio da Igreja, realizado em Wroclaw (Breslau), sob a orientação do Vigário Guido, em 1266. Neste documento estava expresso o temor da Igreja de que, como o povo polonês tinha sido recentemente convertido ao cristianismo, pudesse ser influenciado pelos judeus.

Este receio foi expresso da seguinte forma: "Havia um perigo sempre presente de que o povo polonês cedesse facilmente aos hábitos supersticiosos e maus dos judeus que viviam em seu meio... Por essa razão, nós (isto é, o Concílio da Igreja) determinamos que os judeus residentes na Diocese de Gueseu não vivam lado a lado com cristãos, mas sim separados, em casas vizinhas ou geminadas, em qualquer parte da cidade ou da vila. A parte habitada pelos judeus deverá ficar separada do local de residência dos cristãos por uma cerca viva, uma parede ou uma fossa". Nos primeiros documentos da Igreja não há menção ao nome de "gueto" e sim à antiga designação descritiva bizantina de "Vicus Judaeoran" - que significa, em latim, bairro judeu.

Na Espanha, os judeus viviam, pelo menos desde o século XIII, em "juderias" providas de muros e portões de proteção. No século XV, os frades na Itália começaram a pressionar no sentido de uma segregação efetiva dos judeus. Em 1555, o papa Paulo IV ordenou que os judeus nos Estados papais fossem coagidos a viver em quarteirões separados, o que foi imediatamente implementado em Roma e tornado regra, em toda a Itália, no decorrer da geração seguinte.

A primeira concentração que teve o nome de "gueto" foi, precisamente, a de Veneza. Por estranha coincidência, estava situada perto de uma fundição de ferro ou de canhões, que em italiano tem o nome de gueta. Além do mais, até épocas relativamente modernas, o bairro judeu era chamado de outro nome. Na Espanha chamava-se juderia; em Portugal, judiaria; na França, juiverie; na Provença, carrière des Juifs; na Alemanha e na Áustria, Judenviertel" ou "Judengasse"; e na Inglaterra, "Jew's Street". No Marrocos, Argélia e Tunísia, "hara-mellah". Na área sob controle do Império Otomano, as autoridades simplesmente ignoravam os bairros judaicos.

A lei muçulmana não estipulava áreas de residência para aqueles que não seguiam o islamismo. A degradação veio no século XVIII, quando os judeus foram obrigados a se afastar da vizinhança das mesquitas e ficaram restritos aos limites de suas casas. Com o declínio econômico, muitos dos quarteirões judeus transformaram-se em favelas. No Oriente muçulmano, por exemplo, na Pérsia, o fanatismo xiita impôs a formação de quarteirões judeus separados, fechados durante a noite e no Shabat. Esta medida foi estendida, também, ao Iêmen e ao Marrocos, onde os guetos foram chamados, respectivamente, de Qa at al-Yahud (ou Masbatah) e Mellah. Muitos guetos marroquinos ainda hoje são habitados.

Os judeus jamais esquecerão o período do gueto, não porque queiram lembrar-se dos sofrimentos que lhes impuseram, mas porque é mais um exemplo da força do espírito judaico na adversidade, essa força que sustenta a vida no judaísmo. Aquele período, no entanto, endureceu o espírito de muitos, pois a influência das circunstâncias degradantes nas quais foram obrigados a viver, durante gerações, levou-os a desenvolver certas características. Timidez, constrangimento, desconfiança de seus vizinhos tornaram-se atitudes comuns ao judeu do gueto.

O termo "gueto", além de uma denominação física, passou também a representar uma atitude mental que se estendeu aos judeus de outras terras, à medida que as condições de gueto passaram a se estender para além da Itália e da Alemanha, a outras partes da Europa. Fazia com que os judeus fossem considerados "proscritos sociais".

Os judeus sempre preferiram viver perto, uns dos outros, como fazem todos os que compartilham de algo que consideram essencial. O que tornava um gueto diferente das outras ruas ou bairros judaicos onde não existisse, era o fato de ser compulsório. Os judeus não podiam viver em nenhum outro lugar enquanto que os cristãos podiam viver em qualquer lugar, menos lá. Era estabelecido por lei como o bairro legalmente aprovado para residência judaica. Durante mil anos a Igreja vinha incitando os cristãos a terem o menor contato possível com os judeus.

Diversas foram as razões que levaram ao estabelecimento dos guetos, mas por trás de todas estava o desejo comum das autoridades de mantê-los fisicamente isolados do resto da população, mas partícipes em algumas etapas do processo econômico. Houve casos em que, depois de terem sido expulsos de algumas nações e ter sua entrada proibida até naquelas onde já haviam vivido, foram convidados pelos mesmos governos para lá retornar. Submetidos a grandes privações para sobreviver, muitos judeus passaram a mascatear ou a emprestar dinheiro a juros, uma atividade proibida aos cristãos pela Igreja.

Sendo assim, interesses econômicos fizeram com que os judeus fossem readmitidos, voltando a viver nas cidades onde gerações de seus antepassados tinham vivido, por séculos. Mas uma das principais condições impostas para a sua volta foi a de que vivessem juntos, em uma determinada área apenas, separados do restante da população. Freqüentemente, as ruas que conduziam ao bairro judeu eram fechadas por barreiras. Após o anoitecer, os judeus não se arriscavam a ser encontrados fora do bairro, nem os cristãos dentro dele. Com o decorrer do tempo, o termo "gueto" começou a ser usado em referência a esse bairro.

O estabelecimento legal de um bairro separado refletia o nível exato da exclusão social dos judeus da sociedade maior. A sociedade e o governo precisavam deles simplesmente como "agentes econômicos", como meio de obterem dinheiro e não como seres humanos. Os pesados impostos a que eram submetidos jamais os deixariam enriquecer. Tinham de trabalhar arduamente, emprestando a juros um dinheiro que no fim acabaria sendo-lhes confiscado. Pior ainda, a atividade despertava contra eles o ódio da classe média e dos trabalhadores, pois as classes altas usavam o dinheiro usurpado dos judeus para seu próprio enriquecimento. Quando, em 1380 e 1390, as classes pobres se rebelaram, os judeus foram os primeiros a ser atacados e, novamente, ocorreram massacres de judeus sob a acusação de serem a origem de todos os males.

Foi nos países católicos que surgiram os primeiros guetos, em conseqüência da hostilidade acumulada contra os judeus, ao longo dos séculos, e da histeria das massas cristãs desenvolvida durante as Cruzadas (séculos XI, XII e XIII) e na época da Peste Negra (1348-49). Os resultados foram terríveis massacres e intensas perseguições. Foi no decorrer desse período que os judeus foram levados para dentro de guetos cercados, em cidade após cidade, nos estados alemães, na Áustria, na Boêmia, na Polônia, na Itália, na França, em Portugal e na Espanha. Neste período, o clamor por "sangue judeu" ainda não atingira a Rússia. Isto porque a religião da Rússia, apesar de cristã, era greco-ortodoxa e não católica, e também porque a agitação antijudaica ainda não atingira o estágio de levante popular.

Todas as perseguições, pogroms, fugas e restrições drásticas impostas aos judeus na Rússia aconteceram nos "Dias da Ilustração", a partir do século XVIII, quanto reinavam os últimos czares. Uma lei de 1772 e, em seguida, um estatuto em 1804, definiram as áreas nas quais os judeus russos poderiam viver. Eram obrigados a viver em uma área demarcada em amplas zonas da Ucrânia, na Rússia Branca, na Lituânia e nas províncias polonesas anexadas por Catarina II na partilha da Polônia. O sentido da criação de uma "área de estabelecimento", que podia ser descrita como um amplo "gueto geográfico", era o de manter, na medida do possível, a "Santa Rússia" e seu povo livres racial e religiosamente de judeus - a mesma idéia do "Judenrein" nazista.

O gueto de Veneza

Veneza era uma cidade comercial. Seus dirigentes, cientes das vantagens que os judeus poderiam trazer, permitiram-lhes permanecer na região por volta de 1515-16. Mas o Estado decidiu segregar toda a comunidade judaica, confinando-a em uma área específica da cidade. O local escolhido foi uma antiga fundição de canhões, conhecida como o Gueto Nuovo. A nova fundição localizava-se em uma ilha ligada por canais, com altos muros e todas as janelas fechadas por tijolos.

Os dois portões de entrada eram guardados por quatro vigilantes cristãos; seis outros vigiavam dois barcos de patrulha e o soldo de todos os dez ficava a cargo da comunidade judaica. Impostos especiais deveriam ser pagos pelos judeus, que eram também obrigados a pagar aluguel perpétuo pela propriedade onde viviam a preços um terço superiores aos de mercado. Desta forma, Veneza "maximizava" sua vantagem econômica ao aceitar a presença judaica no Estado, enquanto assegurava que os judeus tivessem o mínimo de contato social com os demais habitantes. Com efeito, era-lhes permitido realizar seus negócios durante o dia, a uma distância conveniente, sendo trancados à noite dentro dos portões.

O Gueto Nuo-vo original abrigava judeus italianos e, sobretudo, de origem alemã. Em 1541, judeus do Levante foram deslocados para o Gueto Vecchio. Finalmente, em 1633, a área foi ampliada com o acréscimo do Gueto Nuovissimo para abrigar judeus vindos do ocidente. Os judeus de Veneza pagavam caro para viver assim isolados. O Estado cobrava-lhes não só os impostos e direitos alfandegários comuns aos demais cidadãos, mas também um imposto anual especial de 10 mil ducados, além de outras taxas impostas aleatoriamente.

O gueto de Roma e outros

O destino dos judeus de Roma dependia em grande parte da personalidade e das características do Papa. Antes das expulsões da Península Ibérica, havia 50 mil judeus na Itália. Assim, o Papa Paulo III (1534-49) aceitou a vinda de marranos, prometendo-lhes proteção contra a Inquisição. Em seguida, veio o período da Contra-Reforma e da eleição de diversos papas que reagiam ao crescimento do protestantismo, mostrando grande zelo pela autoridade da Igreja Católica Romana. Foi uma época de relativa tolerância com a população judaica.

No entanto, em maio de 1555, o cardeal Caraffa, grande inquisidor e flagelo dos judeus, dissidentes e heréticos, foi eleito Papa e assumiu com o nome de Paulo IV. Ele imediatamente inverteu a política da Igreja Católica referente aos judeus. Para ele, o judaísmo e sua possível influência sobre os cristãos consistiam uma ameaça mortal para a fé cristã. Dois meses depois aplicou em Roma a solução adotada por Veneza e os judeus da cidade foram empurrados para a margem esquerda do rio Tibre e cercados por um muro. O rio transbordava muito freqüentemente, deixando uma camada de sujeira insalubre.

A partir do século XVI, a Itália foi palco de rivalidades entre a Espanha, França e Áustria. Os judeus italianos foram confinados em seus guetos até serem libertados pelas tropas francesas, invasoras, após a Revolução Francesa de 1789.

Na Toscana, o gueto foi introduzido em 1570-1; em Pádua, em 1601-3; em Verona, em 1599; e em Mântua, em 1601-3. Os duques de Ferrara recusaram-se a aceitar tal medida, mas concordaram em negar aos judeus o direito de imprimir livros. Livorno foi a única cidade que não criou um gueto. Uma última e triste consideração sobre os guetos italianos: a despeito dos inúmeros esforços judaicos, seus membros não conseguiram livrar suas comunidades de serem aprisionadas dentro dos guetos, após a expulsão de seus irmãos da Espanha e Portugal.

Um novo período

A Revolução Francesa exigia igualdade para todos os franceses. Em setembro de 1791, concedeu-se a cidadania francesa a todos os judeus, qualquer que fosse sua origem. Os judeus franceses agora eram livres e o relógio jamais poderia voltar atrás. Além disso, no território papal de Avignon (1791), Nice (1792) e na Renânia (1792-3), os guetos e os bairros judeus fechados foram finalmente arrombados.

A disseminação da revolução para os Países Baixos e a fundação da República Batava concederam aos judeus da região direitos plenos e formais por lei.

Em 1796-8, Napoleão Bonaparte liberou muitos guetos italianos. Tropas francesas, em cada um dos ducados ocupados pelas tropas napoleônicas, literalmente queimavam e destruíam os muros dos guetos, quase sempre sob acompanhamento de música, fogos de artifício e aplausos da multidão. Os oficiais franceses escoltavam pessoalmente os indecisos e assustados habitantes dos guetos, através de buracos abertos nas muralhas, trazendo-os à luz do dia e destruindo com as mãos os velhos muros em ruínas. Em todo o território ocupado pelos franceses, a igualdade dos judeus perante a lei, bem como a igualdade legal para todos os habitantes, ia sendo institucionalizada. Os judeus tinham finalmente liberdade de exercer ofícios e profissões liberais e cargos públicos.

Após a derrota de Napoleão, o Papa reinstaurou o gueto de Roma, que só foi extinto quando Roma uniu-se ao Reino da Itália, em 1870. O gueto foi finalmente demolido em 1885.

O gueto no séc. XX

O nome e conceito de gueto judeu adquiriram uma nova e trágica dimensão durante a Segunda Guerra Mundial. Os guetos estabelecidos pelos nazistas na Europa (1939-1942), durante o Holocausto, não foram formados em caráter permanente, como bairros de judeus: eram parte do plano de extermínio e visavam concentrar, isolar e alquebrar o espírito e o ânimo de seus ocupantes, antes de sua aniquilação total. Entre 1939 e 1942, os judeus da Polônia, Alemanha, Checoslováquia e de outras regiões foram transferidos principalmente para as áreas de Varsóvia e Lublin.

Guetos foram instituídos em vários pontos. O de Lodz, por exemplo, tinha 200 mil judeus, com uma densidade de 5,8 habitantes por cômodo. Era em si um centro de extermínio, com 45 mil pessoas morrendo por dia de doenças e inanição (nos guetos de Minsk, Vilna, Cracóvia, Riga, Bialyshok, Sosnowiec e em muitos mais). O Gueto de Varsóvia tinha, no mínimo, 445 mil judeus: somente neste, 83 mil morreram de fome e doença em menos de 20 meses.

O plano nazista era simples: reunir os judeus, concentrá-los nos guetos, onde iam ser dizimados por "causas naturais", como fome, doenças, patrulhas e franco-atiradores nazistas em busca de "diversão". Os judeus que conseguiam resistir e permaneciam vivos eram mais uma vez agrupados e atirados em trens, que os levariam à morte.

Internamente, os guetos eram pequenas tiranias, governadas por ditadores - a única lei que imperava era a vontade nazista. O controle estava em mãos da Gestapo e dos SS. O gueto possuía "centros industriais"; os judeus ainda aptos e mais qualificados trabalhavam para a Alemanha num regime de escravidão, na ilusão de que o trabalho fosse um "passaporte para a vida".

Mas, a despeito da indigência e da desmoralização a que foram submetidos, dentro de todos os guetos os judeus mantinham intensa atividade cultural e escolar, e praticavam a máxima judaica do auxílio mútuo. Médicos judeus, mesmo sem recursos, tentavam cuidar da população afligida por doenças como tifo e tuberculose. Dessa resistência moral, nasceram os levantes.

O extermínio metódico dos guetos começou com a sucessiva remoção de grupos para o seu aniquilamento, em 1941. O Gueto de Varsóvia foi extinto em 1943 e os restantes, por volta de 1944.

Os judeus haviam aprendido que o mundo civilizado não merecia a sua confiança. Como lição do Holocausto levaram a certeza de que era imperativo ter seu lar nacional, permanente e soberano, no qual, se necessário, a totalidade da comunidade judaica poderia encontrar segurança diante de inimigos. A Primeira Guerra Mundial tornou possível o Estado Sionista; a Segunda Guerra Mundial tornou-o um imperativo.

Bibliografia:
Attias, Jean Christophe; Benbassa, Esther, Dictionaire Civilizacion Jüive.
Comay, Joan, The Diaspora Story
Johnson, Paul, História dos Judeus.
Encyclopedia Judaica.


 

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

SHEMÁ YISRAEL

Ao nascer

Antes que nossos bêbes comecem a balbuciar suas primeiras palavras, logo ao nascer, já introduzimos valores judaicos fundamentais em suas vidas. Logo ao acordar recitamos "Môde Ani" e o "Shemá". Ao estarem quase adormecidos, ainda despertos, bem alimentados, banhados e confortavelmente embrulhados em seus pijaminhas quase a ponto de serem depositados em seu berço, cobrimos seus olhos e recitamos o "Shemá". A afirmação, "Ouve Israel…" que os acompanharão para sempre.

O que faz esta prece ser tão genuina e especial a ponto de incutirmos em nossos filhos, do início ao final de suas vidas?

O "Shemá" é garantia que terão sonos tranquilos e uma vida segura?

Ao anoitecer


Assim como o "Shemá" faz parte das primeiras palavras a serem repetidas por nossas crianças, ele acompanha cada judeu ao longo de sua jornada.

É uma afirmação de nossa fé e confiança em um D’us único e verdadeiro a quem devemos todas as bênçãos recebidas, desde o momento de nosso despertar, ao deitar, bem como nos momentos finais de nossa vida.

A geração de nossos pais ou avós levaram cada palavra do Shemá a seus lábios a caminho dos fornos crematórios, e antes disto, nas fogueiras da inquisição. O princípio que está para sempre moldado na pronúncia desta afirmação, é que a fé e lealdade de um judeu a D’us é inabalável, mesmo que para isto precise pagar com sua própria vida, mesmo que hoje esteja mais distante e ainda não tenha descoberto o incalculável valor de sua herança, mesmo que se torne presa fácil, por falta de conhecimento, de caçadores anielígenas de almas para rebanhos alheios: o Shemá e sua neshamá (alma judaica, a faísca Divina) sempre estarão conectadas.

É dever de todo e cada judeu ensinar o "Shemá" a seus filhos, em todas as gerações, sem esquecer a obrigação de amar e ensinar também a cada irmão judeu, por mais distante que se encontre hoje. Deverá fazê-lo escutar e se aproximar.

A prece
A leitura do Shemá é um mandamento positivo da Torá que deve ser cumprido duas vezes ao dia: pela manhã na prece de Shacharit e após o anoitecer na prece de Arvit. Uma vez que o Shemá da manhã deve ser lido no primeiro quarto do dia, é aconselhável lê-lo logo após as Bênçãos Matinais, antes da prece de Shacharit para não atrasar este horário (e durante a prece de Shacharit, o Shemá será lido novamente na seqüência normal da prece).

O Shemá é composto de três trechos da Tor á (Deut. 6:4-9; 11:13-21; e Núm. 15:37-41) que devem ser lidos cuidado-samente e sem interrupção, seja por palavras, seja por gestos. Os homens costumam beijar os tsitsit (na leitura do Shemá de dia) cada vez que mencionam esta palavra no meio do terceiro parágrafo do Shemá e também na última palavra ("emet").

Cobrem-se os olhos com a mão direita ao recitar o primeiro versículo do Shemá para maior concentração. Ao pronunciar o nome de D’us ("A-do-nai"), deve-se ter em mente que Ele é Eterno, i.e., existe, existiu e existirá. A última palavra do primeiro versículo ("Echad"), composta de três letras hebraicas, deve ser pronunciada com ênfase especial, enquanto se reflete sobre seu significado: a primeira letra, alef, com valor numérico 1, diz respeito ao D’us Único; a segunda, chet, com valor numérico 8, significa que Ele tem soberania absoluta sobre os Sete Céus e a Terra; a terceira, dalet, com valor numérico 4, lembra que Ele também domina os quatro pontos cardeais.

No final do terceiro trecho, as três últimas palavras antes de "emet" são repetidas somente quando a pessoa reza sem minyan.


Shemá Yisrael, A-do-nai E-lo-hê-nu, A-do-nai Echad.

(Em voz baixa:)Baruch shem kevod malchutô leolam vaed.Veahavtá et A-do-nai E-lo-hê-cha, bechol levave-chá uvchol nafshechá uvchol meodêcha. Vehayu ha-devarim haêle, asher Anochi metsavechá hayom al levavêcha. Veshinantam levanêcha vedibartá bam, beshivtechá bevetêcha, uvlechtechá vadêrech uv-shochbechá uvcumêcha. Ucshartam leot al yadê-cha vehayu letotafot ben enêcha. Uchtavtam al mezuzot betêcha uvish’arêcha.Ouve, Israel, A-do-nai é nosso D’us, A-do-nai é Um. (Em voz baixa:) Bendito seja o nome da glória de Seu reino para toda a eternidade.

Amarás a A-do-nai, teu D’us, com todo teu coração, Estas palavras que Eu te ordeno hoje ficarão sobre teu coração. Inculca-las-ás diligentemente em teus filhos e falarás a respeito delas, estando em tua casa e andando por teu caminho, e ao te deitares e ao te levantares. Ata-las-ás como sinal sobre tua mão e serão por filactérios entre teus olhos. Escreve-las-ás nos umbrais de tua casa e em teus portões.


Ensiná-las-eis a vossos filhos, a falar a respeito delas, estando em tua casa e andando por teu caminho, e ao te deitares e ao te levantares. Escreve-las-ás nos umbrais de tua casa e em teus portões. A fim de que se multipliquem vossos dias e os dias de vossos filhos na Terra que jurou A-do-nai a vossos antepassados dar-lhes por todo o tempo em que os Céus estiverem sobre a Terra.

Vayômer A-do-nai el Moshê lemor: Daber el Benê Yisrael veamartá alehêm, veassu lahêm tsitsit al canfê vigdehêm ledorotam. Venatenu al tsitsit ha-canaf, petil techêlet. Vehayá lachêm letsitsit, ur‘-itêm otô, uzchartêm el col mitsvot A-do-nai, vaas-sitêm otam, velô tatúru acharê levavchêm veacha- tizkeru vaassitêm et col mitsvotai, vihyitêm kedoshim l’E-lo-he-chêm. Ani A-do-nai, E-lo-he-chêm, asher hotsêti et’chêm meêrets Mitsráyim, lihyot lachêm l’E-lo-him. Ani A-do-nai E-lo-he-chêm (Ani A-do-nai E-lo-he-chêm). Emet.

Disse A-do-nai a Moshê o seguinte: Fala aos filhos de Israel e dize-lhes que façam para si franjas nos cantos de suas vestimentas, por todas suas gerações. Prenderão na franja de cada borda um cordão azul-celeste. Serão para vós por tsitsit e os olhareis e recordareis todos os preceitos de A-do-nai, e os cumprireis; e não seguireis atrás de vosso coração e atrás de vossos olhos, por meio dos quais vos desviareis. Para que vos lembreis e cumprais todos Meus mandamentos e sejais santos para vosso D’us. Sou A-do-nai, vosso D’us, que vos tirou da terra do Egito para ser vosso D’us. Eu, A-do-nai, sou vosso D’us (Eu, A-do-nai, sou vosso D’us).

É verdade.

O sentido do "Shemá" explicado por Moshê
(Parashat Vaetchanan)

Moshê explicou em detalhes o primeiro mandamento: "Crê em D’us." Disse ele:" Shemá Yisrael, A-do-nai E-lo-hê-nu, A-do-nai Echad"", "Ouve, Israel, A-do-nai é nosso D’us, A-do-nai é Um."
Ao pronunciarmos este versículo, aceitamos o domínio de D’us.

No passado, as nações não conseguiam acreditar que havia um só D’us. Alguns pensavam que havia duas (ou mais) divindades: uma boa e outra má. Mesmo hoje, muitas nações não acreditam num único D’us. Atualmente no Oriente há ainda povos que adoram ídolos. No mundo ocidental muitas pessoas acreditam em D’us. (Ao mesmo tempo, entretanto, curvam-se a imagens e adoram um homem como deus.) E algumas pessoas "esclarecidas" não acreditam de todo na existência de D’us. Moshê ensinou a verdade a Benê Yisrael. O mundo é governado por um único D’us. Ele é tanto um D’us misericordioso (chamado D’us ) como um D’us severo (chamado Elokim).

Nossos sábios ordenaram que cada judeu proclamasse sua crença, recitando o versículo "Shemá Yisrael" duas vezes ao dia, pela manhã e à noite.

Se você olhar o versículo de Shemá num Sêfer Torá ou num Chumash, verá que duas letras desta frase têm o tamanho maior. São elas: áyin e dalet. (O áyin, a letra final da palavra Shemá e o dalet, no final da palavra echad). Estas duas letras formam a palavra "testemunha". D’us disse: "Vocês, o povo judeu, são testemunhas de que sou um. Na Outorga da Torá, vocês viram claramente que sou o único D’us."

O versículo "Baruch shem kevod malchutô leolam vaed"

Após recitarmos o primeiro versículo do Shemá, adicionamos em silêncio as palavras: "Bendito seja o nome de Seu glorioso reino para todo o sempre!"

Este versículo não é encontrado na Torá. Por que razão o acrescentamos?

Quando Moshê foi para o céu, ouviu os anjos louvarem D’us com estas palavras. Ele decidiu ensiná-las ao Povo de Yisrael. Dizemos o versículo em silêncio porque D’us não o deu diretamente a nós na Torá.

As três Parshiyot de Shemá têm 248 palavras

Quando um judeu reza sozinho, repete as palavras: "Ani Hashem Elokêchem" no final da leitura do Shemá. Por quê?

Os três parágrafos do Shemá, mais aquelas três palavras, perfazem 248 palavras. O corpo de uma pessoa tem 248 partes. Nossos sábios ensinam que se pronunciamos com cuidado cada uma das 248 palavras do Shemá, D’us protege cada uma das 248 partes de nosso corpo.

Sempre que rezamos, é importante pronunciar cada palavra. Se as pulamos ou pronunciamos de forma incorreta (principalmente as palavras "D’us " e "Elokênu") então não estamos rezando devidamente. Quando dizemos Shemá, é ainda mais importante pronunciar cada palavra claramente, mesmo que isso leve mais tempo.

Moshê continuou: "Veahavtá et Hashem Elokecha bechol levavechá uvchol nafshechá uvchol meodêcha"; "Ame a D’us, teu D’us, com todo o teu coração, com toda a tua alma, e com todas tuas posses."

Por que D’us deseja que O amemos?

Se O amamos, cumpriremos Suas mitsvot muito mais cuidadosamente. Se você ama D’us, pensará antes de cada mitsvá: "De que maneira posso cumprir melhor esta mitsvá?"
Avraham Yitschac e Yaacov cumpriram a mitsvá de "amar D’us " da forma em que está ordenada no Shemá:

Avraham amou D’us com todo seu coração. Quando Avraham já era um homem velho, D’us disse-lhe para oferecer seu único filho Yitschac em sacrifício. Avraham amava Yitschac. Mesmo assim, cumpriu a vontade de D’us mostrando a força de seu amor por Ele. Da mesma forma, somos ordenados a resistir à nossos impulsos e amar D’us de todo o coração.

Yitschac é um exemplo de alguém que estava pronto a oferecer sua vida a D’us. Concordou em ser sacrificado por Avraham no monte de Moriyá. Nós, também, devemos amar tanto a D’us que estejamos prontos a renunciar a nossa vida por Ele.

Yaacov estava pronto a doar toda sua fortuna para D’us. Na casa de seu pai, Yaacov aprendeu a Torá, antes de preocupar-se em enriquecer. A caminho da casa de Lavan, prometeu dar a D’us um décimo de todas suas posses. Após tornar-se rico na casa de Lavan, Yaacov deu tudo que havia ganho ao seu irmão Essav, para comprar sua sepultura na gruta de Machpelá.

Quando Moshê ordenou aos judeus: "Ame D’us com todo seu coração, com toda sua alma e com todas suas posses," pôde usar os patriarcas como exemplos perfeitos.

Moshê continuou: "Vehayu hadevarim haêle asher Anochi metsavechá hayom al levavêcha"; "Estas palavras que Eu te ordeno hoje ficarão sobre teu coração." Não devem sentir que estas palavras são velhas; devem sentir-se como se as tivessem recebido ainda hoje no Monte Sinai."


"Veshinantam levanêcha vedibartá bam beshivtechá bevetêcha uvlechtechá vadêrech uvshochbechá uvcumêcha"; "Inculca-las-ás diligentemente em teus filhos e falarás a respeito delas, estando em tua casa andando por teu caminho, e ao te deitares e ao te levantares." Fale sobre a Torá mais que sobre qualquer outro assunto."

Um pai judeu deve começar a ensinar Torá aos filhos antes mesmo de começarem a pronunciar suas primeiras palavras. Ensina primeiro este versículo aos filhos: "Torá tsivá lânu Moshê morashá kehilat Yaacov"; "A Torá que Moshê nos ensinou é um legado para a congregaçnao de Yaacov" (Devarim 33:4). Ensina então o versículo "Shemá Yisrael" e outros versículos.

"Ucshartam leot al yadêcha vehayu letotafot ben enêcha"; "Ata-las-ás como sinal sobre tua mão e se-rão por filactérios entre teus olhos."

Quando um menino judeu atinge a idade de bar-mitsvá, coloca tefilin no braço e sobre a cabeça. Os tefilin na cabeça são como uma coroa (o local onde os tefilin assentam sobre a cabeça é onde os reis judeus eram ungidos com óleo). Os tefilin são atados à cabeça e braço com correias de couro. As tiras mostram que estamos intimamente "atados" a D’us.

Os tefilin, na verdade, deveriam ser usados durante todo o dia. No passado, os judeus usavam tefilin o tempo todo, em casa e no Bêt Hamidrash. Dizia-se que Rabi Yochanan e Rabi Yehoshua ben Levi nunca andavam mais que uma curta distância sem usar seus tefilin.

Gerações posteriores não eram suficientemente santas para colocar tefilin durante o dia todo. Começaram a usá-los apenas para as preces matinais.

"Uchtavtam al mezuzot betêcha uvish’arêcha"; "Escreve-las-ás nos umbrais de tua casa e em teus portões." A cada vez que entramos e saimos de nossa casa, devemos olhar para as mezuzot e lembrar-nos de cumprir as mitsvot.
Veja como é importante o primeiro parágrafo do Shemá! Contém mitsvot muito importantes: amar a D’us, aprender e ensinar Torá, colocar tefilin, e colocar mezuzot em nossa casa.

Que possamos sempre escutar, estudar e ensinar profundamente as palavras de D’us outorgadas na Torá, tendo a obrigação e responsabilidade de jamais acrescentar ou diminuir uma única letra.


Veahavtá / O segundo versículo do primeiro parágrafo do Shemá
Vehayá im shamôa tishmeú el mitsvotai, asher Anochi metsavê et’chêm hayom, leahavá et A-do-nai E-lo-he-chêm, ul’ovdô bechol levavchêm uvchol nafshechêm. Venatati metar artsechêm be‘i-tô, yorê umalcosh, veassaftá deganêcha vetiro-shechá veyits‘harêcha. Venatati êssev bessadechá livhemtêcha veachaltá vessavá’ta. Hishameru la-chêm pen yiftê levavchêm, vessartêm vaavadtêm elohim acherim, vehishtachavitêm lahêm. Vecha-rá af A-do-nai bachêm, veatsar et hashamáyim, velô yihyê matar, vehaadamá lo titen et yevulá.

Vaavadtêm meherá meal haárets hatová asher A-do-nai noten lachêm. Vessamtêm et devarai êle al levavchêm veal nafshechêm, ucshartêm otam leot al yedchêm, vehayu letotafot ben enechêm. Veli-madtêm otam et benechêm, ledaber bam, beshiv-techá bevetêcha, uvlechtechá vadêrech, uvshoch-bechá uvcumêcha, uchtavtam al mezuzot betêcha uvish’arêcha. Lemáan yirbu yemechêm vimê vene-chêm, al haadamá asher nishbá A-do-nai laavotê-chem, latet lahêm, kimê hashamáyim al haárets.


Acontecerá, se obedecerdes diligentemente Meus preceitos, que Eu vos ordeno neste dia, de amar a A-do-nai, vosso D’us, e servi-Lo com todo vosso coração e com toda vossa alma; então darei a chuva para vossa terra a seu tempo, a chuva precoce e a chuva tardia; colherás teu grão, teu mosto e teu azeite. Darei erva em teu campo para teu gado, e comerás e te saciarás.

Guardai-vos para que vosso coração não seja seduzido e desvieis e sirvais outros deuses e vos prostreis diante deles. Pois então se inflamará contra vós a ira de A-do-nai, e Ele fechará os céus e não haverá chuva, e a terra não dará seu produto. Então perecereis rapidamente da boa Terra que A-do-nai vos dá. Portanto, colocai estas Minhas palavras sobre vosso coração e sobre vos-sa alma, e atá-las-eis como sinal sobre vossa mão e serão por filactérios entre vossos olhos.


D’us é Um e Sua (nossa) Torá é uma.